Carlomagno (2015), para facilitar a compreensão da história de inovação, a dividiu em quatro Grandes Eras, períodos nos quais germinaram e consolidaram-se modelos de gestão da inovação, alguns deles até hoje executados.
As ideias dessas Eras foram, fortemente, influenciadas por Joseph Schumpeter, pioneiro da reflexão sobre inovação, desde o nível empresarial até o macroeconômico.
A primeira foi a Era do Gênio Inventor, que era o modelo do início do século passado. Alguns nomes desta época são bem conhecidos como Thomas Edison, Santos Dumont e Henry Ford. O primeiro, registrou 2.332 patentes, dentre elas a que mais ficou famosa foi a lâmpada elétrica incandescente. Ele é visto com um dos precursores da revolução tecnológica do século XX. A General Eletric, até hoje uma das maiores empresas do mundo, foi decorrência de seu perfil inovador.
A seguinte foi a Era dos Centros de P&D (Pesquisa e Desenvolvimento). Nesse período saíram do PARC[1] da Xerox inovações como a interface gráfica, o computador pessoal, a impressão a laser e o protocolo Ethernet (arquitetura de interconexão para redes locais). Tão importante quanto, foi o Bells Labs[2], que desenvolveu cabos de telefone, transístores, LEDs, lasers, a linguagem de programação C e o sistema operativo Unix. O período foi repleto de estruturas organizadas de geração e desenvolvimento de invenções, equipes técnicas e desafios técnicos.
O modelo é baseado na busca de patentes como barreira para a imitação e para manutenção de monopólios de longo prazo.
"Essa alternativa foi adotada por empresas de tecnologia, indústrias farmacêuticas, químicas e outras que emergiram competitivas nessas circunstâncias. Ainda hoje, há indústrias e empresas que fazem pesados investimentos em P&D ainda que haja consenso de que não existe correlação direta entre o investimento em pesquisa e desenvolvimento e os resultados de inovação" (CARLOMAGNO, 2015).
A terceira foi a Era do Capital de Risco e de Startups, que combateu a estrutura estabelecida anteriormente através do fortalecimento dos capitalistas de risco e dos ecossistemas de inovação. A Univerdidade de Stanford atuou como hub importante do cluster de inovação do Vale do Silício, na Califórnia. Desse modelo, surgiram empresas como Intel, Apple e, atualmente, Google, Facebook, Linkedin e WhatsApp. Esse modelo de negócios conecta universidades-empresas-empreendedores-capital em um contexto de regras claras e estáveis. Algumas empresas conservadores chegaram a pensar que inovação era apenas “coisa de startup”.
A quarta ficou sendo a Era da Inovação Coorporativa, marcada pela ascensão de um novo formato, não mais dependente de um gênio inventor ou de uma estrutura de técnicos em uma unidade de pesquisa e desenvolvimento. Foi um período marcado por inovação aberta, co-criação, crowdsourcing, inovação além do produto, foco no modelo de negócio. Empresas como a Procter & Gamble, Natura, Nestlé, Tecnisa, Embraer e 3M simbolizam esse modelo.
"Grandes empresas que, a partir de uma noção ampliada da inovação, buscam além de suas fronteiras internas algo mais do que um novo produto. Empresas conectadas em redes de inovação colaborando com clientes, fornecedores, universidades, parceiros e até startups. A quarta Era da inovação também marca o surgimento de brokersde inovação como Innocentive e Nine-Sigma que aproximam grandes empresas (seekers) que buscam solucionar desafios técnicos e de negócios com pesquisadores autônomos (solvers) por meio de plataformas de colaboração via internet. A inovação volta a fazer parte da agenda de grandes corporações com novo enfoque" (CARLOMAGNO, 2015).
A história da humanidade é povoada de inovações e Eras apresentadas fazem parte dessa trajetória. Sem dúvida nenhuma, há aprendizados grandiosos que cada um desses períodos deixou para as novas mentes inovadoras. E a reflexão que outras eras ainda estão por vir.
Referência
Flávia Souza in https://administradores.com.br/artigos/as-eras-da-inovacao por
CARLOMAGNO, M. S. O post de outro da história da inovação. 2015. Disponível em: <http://innoscience.com.br/o-post-de-ouro-da-historia-da-inovacao/>. Acessado em: 20 out. 2015.
Entrevista na integra do professor Guilherme Luiz Pereira, diretor do MBA em inovação da Fiap a revista EXAME
O Brasil comemora o Dia Nacional da Inovação nesta segunda-feira, 19, lembrando o primeiro voo bem-sucedido de Alberto Santos Dumont com um dirigível ao redor da Torre Eiffel, em Paris, em 1901. Mas o que há exatamente para comemorar agora?
O professor Guilherme Luiz Pereira, diretor do MBA em inovação da Fiap, responde:
O varejista Magazine Luiza e a fabricante de cosméticos Natura construíram, ao longo dos anos, processos de inovação que fizeram desses grupos referência mundial. Se alguns gigantes nacionais entenderam cedo a importância de se reinventar constantemente, nos últimos anos os negócios que já nasceram disruptivos estão disseminando em todas as cadeias produtivas novas maneiras de pensar. Desde 2018, quando a empresa de transporte 99 atingiu valor de mercado de 1 bilhão de dólares, outras 11 startups atingiram o patamar de unicórnio.
Até há pouco tempo, os especialistas em inovação eram chamados a ajudar os empreendedores a entender o que é inovação e para que serve. Agora, a discussão trata de como tornar os processos de criação mais eficientes, envolvendo todos os níveis das empresas.
Em meio à pior tragédia de saúde pública em um século, pequenas, médias e grandes empresas precisaram correr para se digitalizar. Algumas tiveram que fazer ajustes menores, como no canal de atendimento ao cliente, e outras transformaram totalmente o seu modelo de negócio.
Para além de São Paulo capital e do Rio de Janeiro, as duas cidades mais ricas do país, novos polos de tecnologia têm surgido em todas as regiões. Os mais proeminentes são o de Belo Horizonte e Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais; os de Recife, Pernambuco, e o de Fortaleza, Ceará; o de Brasília, que tem um viés de impacto social; os de Campinas e São Carlos, no interior paulista. Dos emergentes, o do Vale do Paraíba se destaca. As startups da cidade de Taubaté acaba de ser indicada entre os finalistas do prêmio Startup Awards na categoria de comunidade revelação, junto com o Tambaqui Valley, de Rondônia, e Blumenau, em Santa Catarina.
E o que deve melhorar para que o país inove mais?
Como o Brasil não se insere totalmente na globalização, os produtos e serviços das empresas são pensados apenas para servir a comunidade local. As companhias acabam não se conectando muito com os demais atores à sua volta, como instituições de ensino e órgãos de governo. Não existe troca de experiência e conhecimento. “Nos ecossistemas mais maduros, como o Vale do Silício, nos Estados Unidos, até as concorrentes discutem ideias e soluções entre si”, diz o professor Pereira.
Nos Estados Unidos, fundadores e executivos de startups – por exemplo, Elon Musk, da Tesla, e Mark Zuckerberg, do Facebook – são apontados pelos jovens como modelo profissional. Aqui, os mesmos nomes se repetem há anos nos sonhos dos estudantes: Abilio Diniz, que transformou o Pão de Açúcar em gigante; o bilionário Jorge Paulo Lemann, do fundo 3G Capital, que é dono de participações na cervejaria AB InBev e na rede de lanchonetes Burger King; o banqueiro Joseph Safra…
Em meio ao desemprego recorde no país, há milhares de vagas abertas na área de tecnologia que não são preenchidas por falta de qualificação do trabalhador. “Não existe um Pronatec [ Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego] de tecnologia, por exemplo”, diz Pereira.
Hoje em dia, existe uma disponibilidade de capital de risco muito maior no Brasil, mas ainda é necessário diversificar mais as fontes de recursos para as startups. Além dos bancos e dos fundos de private equity, o mercado financeiro precisa oferecer alternativas que atendam empresas em diferentes estágios de desenvolvimento, como o venture debt.
Por Denyse Godoy
Publicado em: 19/10/2020 às 06h00
Alterado em: 22/10/2020 às 15h48
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